Boteco Das Tertúlias |#7 O Fim Do Mundo

O Boteco Das Tertúlias apresenta-se ao serviço neste frio Março e traz com ele ainda os resquícios do final do mês passado. O discurso que o Leonardo DiCaprio proferiu nos Óscars chegou-nos ao coração – e aqueles olhos verdes também não desajudaram – e este mês falamos sobre Natureza e Alterações Climáticas.

É claro que eu tinha de encontrar uma forma de, de maneira menos DiCapriana, discorrer sobre o assunto sem ter que entrar por muitas reflexões nem coisas sérias, não fosse o discurso correr-me mal e o que eu sei ser insuficiente para citar estatísticas.

Assim, e fazendo jus ao nome do blog, deixo-vos um pequeno conto e, se não cito estatísticas, cito o Leonardo: “Não tomem este planeta como garantido.

Afinal, é o único que tem chocolate. E DiCaprios.

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O Fim Do Mundo

Afagaste-me o ombro, de mansinho, como quem tem medo de desmoronar o que ainda resta. Destapei os olhos, as mãos ainda em ferida, e tentei afastar do meu centro o pavor do silêncio que ouvia. Olhei-te, deste alto, e tu olhaste-me daí, cara suja de quem já perdeu tudo. Ao afagares-me o ombro, assim de mansinho, tentas em vão remediar o ser já tarde.

Tarde demais.

Levanto-me, e sinto o meu corpo a recompor-se. Não é o que costumava ter, cheio de folhas e rios ligeiros; é árido, quente, e os rios são lixo pesado que mal corre.

Andamos, não sei por quanto tempo. Tropeçamos os dois neste novo mundo que nenhum de nós conhece. Tu vais desfalecendo com a mudança e eu vou tornando-a meu hábito. O ar é diferente, mais áspero. Cheira a fumo e é quase denso, quase o consigo agarrar.

Depois de muito tempo, paramos e, apesar de já não conseguir escutar os pássaros, nem ouvir já as flores a nascer, apesar de tudo se quedar aos meus pés como morto, o oceano ruge à nossa frente. Muito maior do que antes, mais revolto. Como uma criança que cresceu depressa demais e não se espraiou nuns braços ternurentos, esquecendo-se assim de aprender a amar.

Cais por terra, e eu pego-te nos meus braços; sento-me assim, contigo no meu colo, o último dos teus.

Eu sou a mãe natureza. Foram outros como tu que me feriram sem retorno, que me despiram de oxigénio e do canto das aves, e que foram desfalecendo na sua própria evolução.

Foste o último. Agora, caído sobre mim, já não resta mais ninguém para falar de um céu azul e dos arco-íris que se viam nas gotas de chuva.

Eu sou a Terra. Mesmo árida, continuo. Não é o fim do Mundo. É o teu.

Carina Pereira

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Não se esqueçam de ler também os textos das outras meninas do Boteco nas seguintes moradas:

A Limonada Da Vida

Espresso And Stroopwafel

Life’s Textures

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